Eram seis da tarde de uma sexta-feira qualquer.
Tomava meu chimarrão e ouvia a programação da noite de Porto Alegre em um
programa de rádio. Ouvi um estrondo na rua, como se fosse um trovão. Mas era um
dia de sol e céu azul. Era apenas o gerador da rua que havia estourado. O
ventilador, o rádio e o computador desligaram automaticamente. Então falei para
mim mesmo lembrando Drumond. ‘E agora José; A luz apagou. A festa acabou’.
Deitei no sofá e adormeci.
Minutos depois acordei. A luz ainda não havia
voltado. Espreguicei-me. Olhei para o lado. E tive uma surpresa. Meu corpo
ainda estava dormindo sobre o sofá. Perguntei-me se aquilo era um sonho. E
parafraseando Quintana, refleti: ‘Tudo passa. Eu passarinho’. Neste exato
momento um passarinho entrou pela janela e pousou sobre mesa onde começou a
saborear algumas migalhas de pão que ali estavam.
‘Toc, toc, toc’. Alguém bateu a porta. Para minha
surpresa chegavam para me fazer uma visita nada menos que Mário Quintana e
Carlos Drumond de Andrade. Quintana logo perguntou: ‘Ainda tem chimarrão?’
Falei que sim, ainda surpreso; E sem saber o que estava acontecendo, fui
lentamente fechar a porta. Drumond disse: “Espere o Érico’. Perguntei:
‘Érico?’. ‘Sim, Veríssimo’. Disse Quintana.
Bom, a sociedade dos poetas mortos estava completa.
Acomodei o pessoal pela sala e começamos a conversar. Um deles me disse:
‘Fiquei sabendo que és poeta’. Seguido dos outros que comentaram: ‘Estamos
acompanhando seu trabalho’.’Me fale um pouco de você’.
‘Moro em Porto Alegre desde a virada do milênio.
Sou natural da fronteira. São Borja. Terra de Jango e Getúlio. E também onde
enterraram o Brizola.’ Neste exato momento ouvi um barulho no quarto. Falei aos
poetas: ‘Esperem um momento, vou ali ver o que é...’. Quando entrei no
dormitório estavam ali Brizola, Goulart e meu falecido pai. Brizola me disse:
‘O Vargas não pode vir, estava com dor de cabeça. Mas mandou um abraço.’. Meu
pai falou: ‘tudo bem com você... Só estou acompanhando o pessoal’ Convidei-os
então a uma rodada de chimarrão: ‘Vamos até a sala tomar um mate’.
Conversamos por aproximadamente uns vinte minutos
sobre vários assuntos, que segundo eles eu deveria abordar em meus textos. Ao
se despedirem, Drumond disse: ‘Visita de poeta e político é jogo rápido’. Meu
pai acompanhou Brizola e Goulart até o Palácio Piratini. Enquanto Quintana
seguiu com Drumond e Érico até o centro para dar um passeio na Rua dos
Andradas.
Fechei a porta. E deitei novamente na mesma posição
onde meu corpo repousava. Minutos depois o rádio começou a tocar, o ventilador
a girar e o PC fazia uma varredura de disco em virtude do desligamento forçado.
Neste momento acordei pela segunda vez. Mas desta vez com corpo e tudo. E
sussurrei para mi mesmo: ‘Que sonho louco’. ‘O que iriam querer aqui poetas
imortais e políticos famosos?’.
Então, peguei meu chimarrão, abri um novo documento
no Word e comecei a escrever um texto sobre viagem astral. No fim do texto me
perguntei: ‘O que diria Kardek sobre este conto...‘. Será que Freud explica?’.
Neste momento ouvi duas batidas na porta. ‘Toc, toc’. Fui abrir surpresamente:
‘Quem será?’. Desta vez era apenas o zelador que vinha me avisar: ‘A luz
voltou’.
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