Zezinho havia parado de beber. Estava completando três anos de abstinência, um mês antes de seu aniversário. No dia em que trocou a ficha de Alcoólicos Anônimos, chegando em casa, recebeu a visita ilustre de uma entidade da terra.
A entidade lhe parabenizou (em tentativa de assalto): "Parabéns; Tri campeão"
"Que é isto! Tenho tanta coisa por fazer e batalhar" - Respondeu Zezinho.
A entidade lhe retrucou: "Só tenho uma coisa a lhe dizer. Sua cachaça é nossa". Entidades, que estavam junto no invisível, completaram: "Um dos nossos despachou na encruzilhada. Outros perguntaram quanto está valendo"
Zezinho sempre dizia que 'a canha não tem preço'. A entidade saiu sem se despedir, enquanto Zezinho pensava o que fazer. Lembrou-se de uma garrafa que guardou na estante.
Zezinho pensou: "Esta história de 'tri campeão' é sacanagem. Como estariam rifando a canha por aí. Se para mim vale milhões de vezes mais do que pediram. Aliás, 'não tem preço'"
Zezinho lembrou-se de cada substância que utilizou na adolescência. Foi ao quarto averiguar quais guardou no cofre.
O pessoal que havia feito despachos estava preocupado. Uns despacharam no Zezinho. Outros, sem o Zezinho. Mas o fato é que chegou no Zezinho.
Como Zezinho manteve a cachaça a salvo, sua canha se tornou uma das mais caras do mundo.
Para saber o que fazer, ligou para um pessoal de Umbanda e do Oriente Ocidental, perguntando se isto era lícito. Obteve a resposta que mantém em segredo. Confirmando que a 'lei continua sendo a mesma'.
Os despachantes queriam a canha dos filhos de volta. Mas reclamavam estar muito cara.
Zezinho resolveu fazer uma caipirinha, zerando a contagem dos três anos de abstinência. Nos terreiros, os 'Exús' e 'Pombas Giros' clamavam a canha de Zezinho. Pois, segundo as próprias entidades, é uma das melhores do mundo.
Zezinho bebeu, esporadicamente, por mais de trezentos dias. Fazendo novo estoque e intervalo.
Aprendeu que nunca se pede (em despachos ou comércio) a canha dos outros, nos outros ou sem os outros.
Acredita-se que a valiosidade de sua cachaça deve-se ao fato de fazer grandes intervalos entre cada consumo; Nunca ter colocado para negócio, pedido em terceiros ou sem terceiros.
O pessoal ainda discute se valida alguma lei a fim de proteger a canha dos quais a guardam.
Contos de Paz
Literatura Ficcional
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