quarta-feira, 15 de junho de 2016

A volta dos que não foram .'.



João Antônio Jorge, Também conhecido como Zezinho, era um menino arteiro. Na infância catequizou os familiares em suas travessuras. 

Na vida adulta, abusava da vida boêmia e das festas noturnas. Dentre os de casa era considerado mulherengo e marrão. Dificilmente era visto com um sorriso no rosto. 

Zezinho, tornou-se homem. Era de difícil convício. Extremamente defensor do próprio território, costumava atropelar sem pedir licença ou bater na porta. 

Em certa idade, no auge de loucura alcoólica, julgou a reencarnação do Cavaleiro da Capadócia. Fez uma guerra que durou um ano. Ano que auto-atribuía a si mesmo. 

Zezinho era do tipo 'Cavaleiro Cavalo'. Aquele que monta a pé, como uma só entidade. Porém, no fim do primeiro ano de guerra, derrubou-se. E, ao levantar-se, quis continuar os conflitos montando em outras coisas. 

Experimentou os mortos, como montaria.  'Encostos' dos ancestrais, amigos e vizinhos. Sempre regado a bastante álcool, alimento em demasia e 'coisas de fumar'. 

O fato é que, ao insistir, Zezinho, foi cobrado. A montaria lhe cobrara os cambitos do demônio, o saco de touro e o caralho das pombas.

Após derrubar-se incontáveis vezes, na sequência das batalhas, Zezinho, foi submetido a fazer escolhas para salvar as respectivas 'partes'.

Ou despachava-se, a si mesmo, no por do sol de uma sexta-feira como humano; Ou teria de carregar (antes de levantar) a terra (os 'pangarés' alheios) que havia montado. 

Zezinho, imprudente, insistiu. Experimentou pisar na terra e pô-la sobre os ombros alheios. Mas viu que isto lhe custaria mais caro. Pois foi avisado de quem nem sempre haveria devolução. 

Então, certo dia, sentado sobre um toco, pisando no próprio pé, fumando um charuto haitiano, conversou com um ancestral remoto (o qual nem sabia o nome ou a existência) que lhe disse: 'Terás que carregar a terra que montas-te. Evite pisá-la. Tampouco coloque sobre os outros. Pois o melhor jamais devolverá tal peso nos ombros'.

Envergonhado, sentindo-se culpado. Zezinho aceitou o fardo que durou por cerca de dez anos. O tempo passou e Zezinho encontrou-se montando novamente. Ao natural. Contudo, como da primeira vez. Sozinho, a pé e como uma só entidade.

Ao ver a perseverança do guerreiro, ofereceram-lhe a volta do 'Cavaleiro Cavalo'. Atribuíram-lhe um ano para reclamar e descarregar os retornos e recalque às demandas. 

Zezinho, imprudentemente, listou centenas de retornos e cobranças. Os quais, no fim do mesmo ano, lhe foram retribuídos como revide em uma carpeta de truco. 

Arrependido, pois havia sido logrado, quando lhe ofereceram a 'volta por cima' a sua terra natal. Reinado do 'Cavaleiro Cavalo' que durou cerca de dois meses e meio. Em sua 'volta', vários adversários e alguns aliados, também, foram devolvidos à terra. Tornaram-se conhecidos como 'os que não foram'. Pois nunca haviam montado, nem pisado, nem posto nada nas costas dos outros, e, mesmos assim, foram cobrados pois, mesmo sabendo do ônus do ato, armaram devolvê-lo à terra natal.

Zezinho, que já não queria mais o que pedia antes, chorava e reclamava como vítima de um complô. Clamava saúde, nas orações que antes eram direcionadas ao trabalho.

Durante vinte anos, nunca mais viram Zezinho sorrir. Tampouco, reclamar. Havia casado com uma pomba cabocla que desejava ser sua 'cadeira' no terreiro. 

Quando estava prestes a vestir saias, Zezinho descobriu que sua 'cadeira' esta sentando em outros tocos. Revoltou-se novamente e chorou. 

Conformado com suas loucuras, estava satisfeito por salvar seu lugar no mundo das 'ovelhas'. Orou para que fosse feita justiça. O que deveria ter pedido antes de cogitar a 'volta por cima', os retornos de um injustiçado e os desejos recalcados de um ser vitimizado. 

Descobriu que era simples. Na época que lhe ofereceram a 'Volta do Cavaleiro Cavalo', era só agradecer. Pois já estava montado 'a pé' como um guerreiro uno. 

Descobriu, também, que deveria ter evitado retornos e cobranças testemunhadas em banda. E que o melhor a quem aprende a ser cavalo, cavaleiro e espada, de si mesmo, é manter-se na batalha em pé, como o legítimo guerreiro. 

Sabendo que a continuação do 'guerreiro' lhe daria maiores direitos, e ganhos, que a volta 'por cima de outras coisas' (seus desejos e pedidos livres de retornos, cobranças ou atos vingativos), arrependeu-se. De modo diferente, sem culpar ninguém. 

Antes de julgar-se filho ou pai, cavalo ou cavaleiro, novamente, preferiu manter-se na luz do espírito. 

Uma nova chance foi dada a sua linhagem ancestral. Àquele que via como o 'menino' de sua nação', na jornada encontra-se passando  por provação semelhante. Conhecido como Jesus José Pedra. (assim, com o 'a' mesmo). 

Orou que o 'menino adulto', pai de um adolescente, fizesse a escolha certa. Continuando guerreiro. E dizendo 'Muito obrigado pela volta por cima. Mas, a subida encontro ao continuar em frente. Do meu modo, demora bastante. Sei montar e ser a própria montaria. Contudo, hoje escolhi ser guerreiro'. 

JD

Contos de Paz 
Literatura Ficcional

*Baseado na história de um filho que foi despachado humano pois se julgou pai. Muitos diziam que o viram do modo como se julgava. Hoje, no mundo dos guerreiros, trabalhando céu e terra, é conhecido, e eternizado, como 'Espírito de luz' .'.


*A história está criptografada. 

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